[:pb]A série “13 reasons why”, lançada no fim de março pela Netflix, tem conquistado público e popularidade. O debate em torno desse polêmico e até então “velado” conteúdo abordado na trama: o suicídio de uma adolescente, tomou conta das mídias sociais, escolas, empresas, rodas de amigos e, claro, a imprensa, de forma bastante aberta e direta. Além dele, outro fato que veio à tona recentemente e que está dando o que falar por aí é um jogo virtual chamado de “Baleia Azul”, praticado em comunidades fechadas de redes sociais como Facebook e WhatsApp e que instiga os participantes, em maioria adolescentes, a cumprir 50 tarefas, sendo a última delas o suicídio. Tudo isso levou há uma enxurrada de reportagens, artigos, matérias e também levantou uma infinidade de análises e comentários de especialistas redes afora.
Só para contextualizar um pouco sobre a produção do seriado, que foi inspirada no livro homônimo de Jay Asher, ele narra 13 razões que levaram uma colegial a tirar a própria vida. Gravadas em áudios de fitas cassetes e enviadas postumamente, as mensagens apontam inúmeros fatos que podem ter levado ao desfecho trágico da personagem, como bullying no ensino médio, machismo, LGBTfobia, abuso sexual e, de uma forma geral, a difícil missão de passar pela fase da adolescência.
A cobertura por parte das mídias sociais e da imprensa sobre a série, o jogo virtual e, mais precisamente, sobre o aumento da procura por ajuda de adolescentes e adultos com problemas graves e que entram em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida), acende uma luz muito maior sobre a questão: precisamos abordar esses temas “tabus” de forma mais aberta e conversar com os jovens. De acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados amplamente pela imprensa nessas reportagens, o suicídio está entre as principais causas de morte na adolescência, competindo com acidentes causados por veículos e, no caso de países como o Brasil, violência armada.
A imprensa e as redes sociais desempenham um papel extremamente importante ao informar e disseminar conteúdos tão atuais e relevantes para a sociedade, como os listados acima. Os casos, no entanto, reacenderam também outra discussão. Como devemos tratar temas polêmicos sem incentivar imitações no mundo real, o chamado “efeito Werther”, referência a um livro do século 18 que desencadeou uma onda de suicídios na Europa? Muitos especialistas expressaram suas opiniões em diversas mídias, alguns a favor da série e da discussão. Por outro lado, alguns críticos chegaram ao extremo de recomendar que a nova série original do Netflix não fosse assistida, e isso não por questionarem a qualidade da produção, mas, sim pelo perigo que ela pode representar para a sociedade.
Essa recomendação de “boicotar” uma série obviamente chega a alcançar um desfecho oposto, aumentando ainda mais a curiosidade e o interesse pelo conteúdo. Vale mencionar ainda, que além do seriado, muitos adolescentes, provavelmente, foram atraídos pelo jogo “Baleia Azul”, exatamente por essa curiosidade e por sua proibição. Daí entramos na principal questão que devemos avaliar: a falta de conhecimento faz com que o assunto se torne um tabu e, por isso, seja tão importante discutir sim o tema, em todos os âmbitos.
Acredito que o assunto tenha que ser amplamente conversado em casa entre pais e filhos, nas escolas entre professores e alunos, e digo mais, seja explorado, da forma correta e o mais transparente possível, mas sem promove-lo, pela grande imprensa e mídias sociais. Citando mais uma estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 90% dos suicídios podem ser prevenidos. Com mais esse dado em mãos, vale a pena pensar que o preconceito histórico em falar sobre suicídio não ajuda a evitar essas mortes. Vamos avaliar então enquanto comunicadores como podemos abordar o tema de uma forma esclarecedora, em prol de alertar e levar conhecimento à população?
O CVV, que desenvolve um trabalho de prevenção ao suicídio e apoio emocional, informou que, no mês de abril, o número de pessoas interessadas em atuar como voluntárias na ONG triplicou em relação à média. O crescimento tanto de pessoas em busca de ajuda, quanto de voluntários querendo ajudar é atribuído à grande repercussão dos temas ligados ao suicídio. Desde que a série “13 reasons why” estreou no Brasil, o CVV registrou um aumento de 445% no número de e-mails recebidos. Com certeza esses dados mostram o quanto a população precisa discutir e conhecer melhor assuntos que ainda são “tabus”. Precisamos refletir de verdade sobre isso e também como cada um de nós pode ajudar na disseminação de informação que seja relevante para a vida das pessoas. Podemos salvar vidas![:]