Quem se lembra do título deste post como parte de uma música ou é pesquisador e fã de MPB ou nasceu em um mundo totalmente analógico e nos quais os meios de comunicação eram completamente diferentes. A começar pela liberdade de expressão de ideias e pelas ferramentas disponíveis para que essas opiniões se espalhassem rapidamente e sem controle mundo afora.
Passadas décadas de profundas mudanças na comunicação de massa e na forma como se consome informação, o questionamento “quem lê tanta notícia” é ainda mais atual.
Os consumidores de informação – ou seja, todas as pessoas – buscam informações mais rápidas, didáticas e divertidas. A percepção de profundidade, relevância e credibilidade foi vítima direta dessa mudança. Não vou entrar no mérito se está certo ou errado, mas o fato é que para uma organização sobreviver nesse cenário, é preciso reformular seus paradigmas de comunicação e relacionamento com os diversos públicos (chamados de stakeholders).
Algumas evoluções são nítidas, mas poucas empresas conseguem realizá-las com naturalidade e eficiência, como:
• Diálogo aberto;
• Capacidade de sintetizar e, para isso, abrir mão de preciosismo e afirmações estáticas e não contextualizadas;
• Aceitação de críticas e sua utilização para melhorias de processos e produtos, mesmo que sejam ou pareçam injustas;
• Compreensão de que diversos stakeholders geram impacto no negócio da empresa e que cada um deles pode ter diferentes interesses e visões da mesma questão;
• Visão de que esses grupos se inter-relacionam e podem gerar e sofrer pressão entre eles.
Foi-se o tempo de produção de press release e divulgação em massa como maneira para ser conhecido e reconhecido. Agora é a vez dos relacionamentos segmentados, porém inter-relacionados; das informações selecionadas e diretas; e do diálogo constante (não somente quando a empresa quer falar).
Advocacy, gestão de stakeholders, SAC 2.0 e social release são algumas oportunidades que surgiram como parte dessa evolução. Mais do que palavras, são novas formas de relacionamento e exigem cuidados e conhecimentos específicos.
Lutar contra esse fato é perder reputação e ver sua marca ficar manchada e envelhecida. É perder espaço para os concorrentes e novos entrantes, mais joviais, ágeis e interativos.
Como todas as mudanças, o processo não é fácil e requer sacrifícios. Inclusive para os profissionais de comunicação que, em grande parte, não estão preparados ou dispostos a esse processo irreversível.
A propósito, “quem lê tanta notícia” faz parte da música “Alegria, Alegria” de Caetano Veloso, lançada em 1967 e considerada quase um hino do movimento contra a ditadura militar.
André Lorenzetti cresceu em uma época em que as informações eram restritas e sem agilidade. Aprendeu, pessoal e profissionalmente, a ser cada vez mais objetivo, claro e flexível. E isso é muito bom.