Não há quem não se lembre, com carinho e saudade, dos rituais familiares. Aqueles encontros nas reuniões de Natal, as brincadeiras na Páscoa, a espera angustiante pela “fada dos dentes” — aquela que pega um dentinho de leite embaixo do travesseiro e troca por dinheiro. Isso sem falar nas nossas formaturas do pré, primeiro grau, ensino médio e faculdade; as comemorações pela entrada na universidade, a compra de um carro novo e, até mesmo, a conquista de um novo emprego.
Somos ritualistas. O ser humano precisa de rituais para renovar seus afetos. Gostamos de rituais para comemorar, festejar, reunir ou marcar nossos ritos de passagem.
Será que as empresas se dão conta disso? Será que não pensam que reuniões são somente para comemorar? Se assim for, 2015 será o ano mais pobre de reuniões da história deste país!
Diante de um ano com baixo desempenho econômico, com equipes sendo cortadas, redução nos orçamentos e tantas decisões amargas, a tendência das empresas é cortar também os momentos de reuniões. O que parece coerente com o cenário é altamente incoerente quando se busca mais envolvimento e engajamento das equipes.
Reunir para dizer que nem tudo está como previsto, que o mercado não está respondendo bem, que há riscos de demissões e mais cortes nos orçamentos. Fazer isso é respeitar quem está envolvido no dia a dia da empresa, é compartilhar a verdade, é mostrar que não estamos aqui só para festejar mas também para comunicar, com clareza e transparência, onde estamos.
Quando meu pai comprou nossa primeira casa, não viajamos para a casa dos meus avós no Natal daquele ano, como era de costume. Nem ganhamos presentes. E também nosso Natal não foi nada nababesco (esta parte das festas de Natal é irritante!). Tivemos, no cardápio, um jantar e um almoço muito comum. E meu pai explicou para mim e meus irmãos, todos ainda muito crianças, o motivo daquele Natal diferente. Não houve revolta e nem birras pela ausência dos brinquedos. Estávamos juntos, sem nossos primos, é certo, mas unidos e confiantes que aquilo seria passageiro como, de fato, foi.
Por que se esconder? Por que não mais reunir a equipe, mesmo que seja para não celebrar nada, mas simplesmente compartilhar? Por que cortar a festa junina? Ao invés de uma grande festa, opte por uma festa mais modesta, mas não abra mão de reunir, de ritualizar o que quer que seja. O ser humano precisa disso. O empregado precisa deste afeto, até mesmo para aguentar os trancos de 2015!
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Gisele Lorenzetti é diretora geral da LVBA Comunicação e presidente do conselho diretivo da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação.